Em cães e gatos, a incidência de doenças do trato urinário inferior é bastante elevada. Estas doenças podem afetar os ureteres, a bexiga e a uretra. Uma das causas mais importantes deste tipo de afeções é a formação de cálculos urinários.

O Myko deu entrada no nosso hospital com alterações na micção.

Anamnese / Exame físico

Ao exame físico, o Myko apresentava desconforto abdominal e distensão da bexiga. À compressão verificou-se que a micção era em quantidades reduzidas e a urina apresentava uma coloração rosada.

Pode ser observada a urina em poucas quantidades e a sua coloração rosada

Exames complementares de diagnóstico

Raio-x abdominal: Ao exame radiográfico observou-se a bexiga distendida e com vários cálculos radiopacos (cálculos brancos indicados pelas setas) no seu interior.

Algaliação e análise de urina: Após a desobstrução uretral, esvaziou-se a bexiga e foi realizada uma urianálise. A urina apresentava grande quantidade de sangue.

Imagem 1 - radiografia latero-lateral onde se observam os cálculos urinários com opacidade
Imagem 2 - urina após colheita por algaliação

Tratamento

O tratamento baseia-se na remoção cirúrgica dos cálculos.
Posteriormente realizaram-se várias lavagens vesicais.

Remoção cirúrgica dos cálculos

Pós-cirúrgico

Após a cirurgia, o tratamento tem por objetivo prevenir a formação de novos cálculos urinários e geralmente consiste na combinação de uma dieta e terapêutica específicas.

O Myko teve alta após três dias de internamento sem alterações na micção.

Os cálculos que foram retirados

Curiosidade

Os cálculos urinários são formados pela precipitação de cristais contidos na urina. Os mais comuns em cães são constituídos por fosfato, amónia e magnésio, sendo designados por estruvite. Um outro tipo de cálculo urinário bastante comum é o oxalato de cálcio. São menos frequentes os cálculos de urato ou de cistina.

Os sinais mais comuns de cálculos urinários são:

* Sangue na urina (hematúria);
* Micção frequente de pequenos volumes de urina (polaquiúria);
* Dor durante a micção (disúria) acompanhada, ocasionalmente, de esforço abdominal durante a micção;
* Tendência acentuada para lamber a zona genital.

Quando um cálculo de pequena dimensão se aloja na uretra pode interromper o fluxo de urina. A bexiga sofre uma distensão porque a urina, nesta situação, não é excretada. Assim, uma vez que o rim não consegue eliminar eficazmente os resíduos do organismo, entre os quais, a ureia, estes acumulam-se no sangue. Esta acumulação de resíduos pode estar na origem da deterioração do estado geral do animal, provocando agitação, perda de apetite, vómito e fraqueza generalizada. Uma obstrução uretral é uma situação grave que pode colocar em risco a vida do animal. Assim, o animal deverá receber assistência médica o mais rapidamente possível. Quanto mais cedo o animal receber assistência médica, melhor será seu prognóstico.

Os coelhos e os roedores são frequentemente afetados por ácaros.
A maioria dos ácaros vivem sobre a superfície da pele do hospedeiro e alimentam-se de descamações epiteliais. No coelho, o Psoroptes cuniculi localiza-se fundamentalmente no pavilhão auricular, enquanto a Cheyletiella parasitivorax localiza-se no pelo, assim como o Listroporus gibbus.
A Cheyletiella parasitivorax pode ser transmissora do vírus da mixomatose nos coelhos. Este ácaro tem impacto na saúde pública uma vez que, apesar de raro, pode afetar o homem.

Anamnese / Exame físico

O coelho Zole veio à consulta porque andava com muito prurido.

Foi observada a presença de dermatite multifocal.

Dermatite multifocal

Exames complementares de diagnóstico

Foi realizada uma raspagem e observada ao microscópio e observaram-se ácaros – Cheyletiella parasitivorax.

Cheyletiella parasitivorax (seta)

Tratamento

Foi instituído tratamento médico de acordo com o agente diagnosticado.
Na semana seguinte o Zole veio controlar e estava bastante melhor.

Tratamento médico

A Mikas deu entrada no nosso hospital a respirar de boca aberta e em choque. Os donos encontraram-na com esta sintomatologia após ter regressado da rua.

Exame físico

Após ter sido colocada a oxigénio e a soro para estabilizar, foi realizado um exame físico onde se observou mucosas ligeiramente pálidas, desconforto abdominal e a presença de uma ferida penetrante abdominal direita.

Imagem ilustrativa do possível chumbo

Exames complementares de diagnóstico

Radiografia lateral: presença de um chumbo na cavidade abdominal.

Radiografia ventro-dorsal: é possível observar o chumbo no lado esquerdo do abdómen.

Ecografia: presença de algum líquido livre.

Hemograma: ligeira anemia.

Imagem 1 - radiografia lateral
Imagem 2 - radiografia ventro-dorsal

Tratamento

O tratamento, neste caso, é cirúrgico.

Após a estabilização e a administração de soro endovenoso, antibioterapia, analgesia e de um anti-inflamatório, a Mikas foi submetida a uma intervenção cirúrgica para remoção do chumbo. Foram observados cinco orifícios perfurantes no intestino.

Imagem 1 - chumbo a ser retirado do intestino
Imagem 2 - sutura do intestino

Pós-cirúrgico

A Mikas ficou internada a fazer fluidoterapia, antibioterapia e analgesia durante três dias, tendo posteriormente recebido alta.

A hérnia diafragmática caracteriza-se pela passagem das vísceras abdominais para a cavidade torácica, após a rotura do diafragma, que é o músculo responsável pela separação das duas cavidades. A hérnia diafragmática pode ser de origem congénita (quando há desenvolvimento incompleto e defeituoso do músculo) ou adquirida (nos casos de traumatismos como atropelamento, quedas, entre outros).

Os órgãos abdominais (principalmente o fígado, baço, intestino e as vezes o estômago) quando passam para a cavidade torácica comprimem os pulmões causando dificuldade respiratória.

Anamnese/ Exame Físico

O Micas entrou no hospital com história de dificuldade respiratória. O respirar de boca aberta (como vemos na imagem 1) é indicativo de dispneia grave.

Imagem 1 - dispneia grave

Exames complementares de diagnóstico

A radiografia simples revelou perda da integridade da linha diafragmática e presença de radiopacidade de tecido mole entre o coração e o diafragma (imagem 2).

Pela forte suspeita de hérnia diafragmática, foi realizada uma radiografia de contraste com bário. Foi possível observar a presença do estômago no tórax, permitindo o diagnóstico definitivo de hérnia diafragmática (imagem 3).

Imagem 1 - Radiografia simples
Imagem 2 - Radiografia de contraste

Tratamento

A herniorrafia é uma cirurgia que consiste no reposicionamento dos órgãos herniados e na reconstrução do diafragma.
Durante a cirurgia foi possível observar que o fígado, baço, estômago e intestino estavam herniados. Através de tração suave os referidos órgãos foram recolocados na cavidade abdominal.

O defeito diafragmático foi suturado impossibilitando assim a comunicação da cavidade abdominal com a cavidade torácica (imagens 4 e 5).

Por fim, procedeu-se a drenagem do pneumotórax (acumulo anormal de ar entre o pulmão e a pleura), secundário à resolução cirúrgica (imagem 6).

Imagem 4 - Herniorrafia
Imagem 5 - Herniorrafia
Imagem 6 - Drenagem do pneumotórax

Pós-cirurgico

Foi realizado um raio-x de controlo (imagem 7) onde se observa integridade da linha diafragmática e da silhueta cardíaca. Os lóbulos pulmonares são agora visíveis.

O Micas permaneceu internado a fazer fluidoterapia e medicação por via endovenosa. Teve alta 24 horas após a cirurgia com medicação por via oral (antibiótico e anti-inflamatório).

Imagem 7 - radiografia simples de controlo

O Pepe caíu do 3º andar e veio de urgência ao nosso hospital.

Exame Físico

Ao exame físico observou-se que claudicava do membro anterior direito e apresentava dor à manipulação. À palpação verificou-se crepitação na região do cotovelo.

Exame físico

Exame radiográfico

Raio-x lateral: fratura do olecrâneo.
Observam-se linhas de crescimento uma vez que é um animal jovem.

Raio-x antero-posterior: devido à sobreposição com o úmero não se visualiza com facilidade a fratura. Contudo, é importante realizar o exame radiográfico sempre em duas posições para confirmar se não existem fraturas concomitantes.

Radiografias lateral e antero-posterior

Tratamento Cirúrgico

O tratamento é cirúrgico.
Procedeu-se à colocação de fixadores externos.

Cuidados pós-cirúrgicos:

Repouso, colar isabelino e medicação antibacterina, analgésica e anti-inflamatória.

Tratamento

Controlo radiográfico pós-cirúrgico

No dia da cirurgia: verificou-se a estabilização da fratura com a colocação dos fixadores externos.

Um mês após a cirurgia: Verificou-se a presença de calo ósseo. Desta forma, removeram-se os fixadores externos.

Radiografias do pós-cirurgico

Um corpo estranho é um objeto que o animal consegue engolir mas não consegue eliminar, ficando preso de forma parcial ou total e impedindo a passagem dos alimentos.
Estes objectos devem ser removidos o mais rapidamente possível para não provocarem uma perfuração gastrointestinal.
Os corpos estranhos podem ficar retidos em 3 zonas: esófago, estômago e intestino.

A Minie, uma cadelinha com 10 anos, deu entrada no nosso hospital com história de vómitos há cinco dias.

Exame Físico e exames complementares de diagnóstico

Ao exame físico a Minie apresentou desidratação e disfagia.
Foram realizadas análises sanguíneas que não apresentaram alterações significativas.
Ao exame radiográfico apresentou um corpo estranho radiopaco (indicado pela seta) no esófago.

Exame Físico

Exames de diagnóstico

Procedeu-se à colheita de sangue para análises sanguíneas (hemograma, bioquímicas e esfregaço sanguineo) e urina.
Verificou-se a presença de anemia, alteraçoes hepáticas e a presença de hemoglobinúria (hemoglobina na urina).

Ao esfregaço sanguíneo observou-se a presença de babesias nos globos vermelhos (indicada na imagem com uma seta), permitindo o diagnóstico definitivo de Babesiose.

Exames de diagnóstico

Endoscopia

Imagem radiográfica após o osso ser sido deslocado para o estômago através da endoscopia (seta na imagem).

Após corrigida a desidratação, foi realizada endoscopia onde se verificou que o corpo estranho estava preso na porção distal do esófago não sendo possível a sua remoção por endoscopia. Através deste exame de diagnóstico, o osso foi deslocado para o estômago para em seguida ser retirado.

Tratamento

Gastrotomia

Foi realizada gastrotomia, onde se retirou o osso do estômago.

Sutura gástrica.

Tratamento

Pós-cirúrgico

A Minie permaneceu internada a fazer fluidoterapia e medicação endovenosa.
A água foi introduzida 12 horas após a cirurgia e a comida 24 horas após cirurgia.
Teve alta ao fim de 3 dias.

Pós-cirúrgico

A babesiose, vulgarmente designada por “febre da carraça”, é uma doença causada por um protozoário (babesia spp), cuja transmissão é feita pela picada de uma carraça infectada.

Exame Físico

A Nancy esteve desaparecida três semanas e foi encontrada muitomagra e debilitada.
Para além da caquexia, os donos relataram que ela não comia (anorexia),bebia muita água (polidipsia) e a urina apresentava uma coloração alaranjada e em grandes quantidades (poliúria).

Ao exame físico apresentou mucosas pálidas e ictéricas (mucosas amareladas), febre (40ºC) e presença de pulgas e carraças.

Exame Físico

Exames de diagnóstico

Procedeu-se à colheita de sangue para análises sanguíneas (hemograma, bioquímicas e esfregaço sanguineo) e urina.
Verificou-se a presença de anemia, alteraçoes hepáticas e a presença de hemoglobinúria (hemoglobina na urina).

Ao esfregaço sanguíneo observou-se a presença de babesias nos globos vermelhos (indicada na imagem com uma seta), permitindo o diagnóstico definitivo de Babesiose.

Exames de diagnóstico

Tratamento

A Nancy ficou internada a fazer fluidoterapia e medicação durante três dias.
Foi prescrita medicação para fazer em casa e controlos periódicos.

Tratamento

Curiosidades

Como se transmite?

A babesiose é causada por um protozoário (babesia spp), cuja transmissão é feita pela picada de uma carraça infectada. A carraça pica um cão doente, infecta-se e ao picar um cão saudável transmite-lhe a doença. O período de incubação desta patologia, isto é, o período decorrido desde o momento em que o animal é picado até ao aparecimento da sintomatologia clínica, pode variar entre 10 a 21 dias. Uma vez no sangue, o parasita invade os glóbulos vermelhos, local onde se multiplica, fazendo com que haja destruição e consequente diminuição do número destas células, provocando anemias severas.

Quais os sintomas?

A severidade da sintomatologia varia com a espécie de parasita e com a idade e estado imunitário do animal. Isto justifica o aparecimento de diferentes quadros clínicos em animais afectados pela mesma doença.

Os sinais clínicos mais frequentes são: febre; perda de apetite; depressão; debilidade; anemia(membranas mucosas pálidas; taquicardia; taquipneia; icterícia(membranas mucosas amareladas) e urina com uma coloração alaranjada ou mesmo vermelha.

Qual o tratamento?

Dependendo da gravidade dos sintomas, está doença é tratável com administração de antibióticos apropriados para matar o parasita, controlo da insuficiência renal e da anemia – através de medicação ou, em situações mais graves, de transfusões sanguíneas.

Como prevenir esta doença?

O ponto fulcral da prevenção da Babesiose consiste no controlo das carraças mediante a utilização de produtos acaricídas adequados ( aplicação semestral de uma coleira – como a Scalibor , Preventic – ou mensal de uma pipeta que tenha fipronil ou permetrinas – Advantix, Pulvex ou Frontline) , sendo ainda importante um bom grau de higiene do local onde o animal se encontra.

A hérnia discal é a protusão do disco intervertebral para fora da sua localização anatómica normal, com possível compressão das estruturas nervosas vizinhas.
As lesões discais podem provocar dificuldade de locomoção nos nossos animais. Esta dificuldade de se locomover pode ser parcial, ou seja, o animal sente os membros (reage à dor) mas tem dificuldade para andar, ou total, quando existe ou não sensibilidade nas patas, mas o animal não se locomove (paralisia).

Normalmente, quando o animal não reage à dor por mais de 24 horas (ausência de sensibilidade), a paralisia pode ser permanente na ausência de intervenção médica imediata.
A Debbie deu entrada no Hospital com paralisia dos membros posteriores. Esta sintomatologia tinha surgido há poucas horas e de forma aguda.

RX de Coluna

Após a realização de um exame neurológico completo verificou-se que os membros anteriores estavam normais e os posteriores apresentavam défices proprioceptivos com sensibilidade profunda,o que nos levou a suspeitar de hérnia discal toracolombar.
Foram realizados raios-x de coluna para avaliar possiveis alterações discais  (imagem).

Radiografia de coluna

Tomografia Axial Computorizada (TAC)

Foi realizado TAC, onde se confirmou hérnia discal T12-T13 (imagem).

TAC

Tratamento cirúrgico - hemilaminectomia

A hemilaminectomia é uma cirurgia de descompressão em que é removido uma certa quantidade de osso, ligamentos ou outras estruturas que estejam a comprimir a medula. Esta cirurgia permite a diminuição da dor e uma funcionalidade adequada do sistema neurológico, permitindo a marcha e melhorando a qualidade de vida do paciente.

Hemilaminectomia

Pós-cirúrgico

A Debbie ficou hospitalizada durante uma semana a fazer antibioterapia, analgesia e fisioterapia.
A fisioterapia, numa fase inicial, é através da aplicação de frio e/ou calor na região afetada, massagens e um programa de exercícios, visando o fortalecimento dos músculos da região lombar, o aumento da sua flexibilidade e a melhoria da postura. Numa fase posterior com estimulação eléctrica transcutânea (a aplicação de eléctrodos na pele, através dos quais se transmitem estímulos eléctricos).

Ao final de alguns dias a Debbie já dava os primeiros passos.

Pós-cirúrgico